Tratamento com iodo radioactivo no cancro da tiróide
O que é e para que serve?
O iodo é a matéria-prima necessária para o fabrico de hormonas tiroideias (T3 e T4) e é captado electivamente pela tiróide. Na forma do isótopo I-131 adquire a capacidade de destruir as células da tiróide que as fabricam.
Em doses elevadas utiliza-se para destruir as células normais que restam após a cirurgia e as células malignas que mantêm a captação do Iodo, o que felizmente acontece nos cancros da tiróide diferenciados ou seja nos tipos papilar e folicular.
Após a cirurgia?
Após a cirugia pode ser necessário o tratamento com iodo radioactivo, chamado tratamento ablativo ou ablação, porque destrói as células tiroideias normais e as cancerosas que possam ter restado. A necessidade de o fazer ou não, vai depender da cada caso, depende do doente e do grau de risco do tumor .
Que efeitos secundários tem?
O tratamento em si tem poucos efeitos secundários. Com as doses elevadas que são utilizadas, pode sentir, no curto prazo, alterações do paladar, ou inflamação ligeira das glândulas salivares ou ainda do tecido tiroideu que restou após a cirurgia. Mais raramente pode ter náuseas ou vómitos. Este tipo de queixas são pouco frequentes e habitualmente transitórias.
Os efeitos a longo prazo do iodo radioactivo são igualmente escassos, podendo acontecer, em casos raros, persistência de queixas associadas a disfunção das glândulas salivares. O aumento da incidência de tumores secundários líquidos e sólidos nunca foi claramente documentado, à excepção de casos raros em que são necessários vários tratamentos com Iodo-radioactivo.
Que precauções tomar?
O tratamento com Iodo-131 no cancro da tiróide obriga a um internamento (de um modo geral de 2 dias) em quarto especialmente preparado, atendendo à dose utilizada. Uma vez que o Iodo é eliminado pelas secreções corporais, principalmente urina, mas também suor, saliva, é incentivada a ingestão de muitos líquidos e sumos ou rebuçados de limão, que aceleram a eliminação do Iodo. A ingestão de sumo de limão nos dias a seguir ao tratamento é muito importante pois diminui a retenção do iodo radioactivo nas glândulas salivares.
Após a alta, deverá haver mais alguns cuidados em casa, de um modo geral, durante semana como por exemplo evitar contactos próximos e prolongados (menos de 1 metro durante mais de 30 minutos), principalmente com crianças e grávidas. Deve ser tomados ter cuidados que visam prevenir a contaminação e acelerar a eliminação do Iodo: tomar banho com chuveiro diário, lavar as mãos frequentemente, descarregar o autoclismo duas vezes, não cozinhar para outros ou utilizar luvas, não partilhar copos, pratos e talheres e lavá-los em separado e não dormir acompanhado.
Como aumentar a eficácia do tratamento?
A captação do iodo pelas células tiroideias é tanto maior quanto maior for a elevação da TSH (a hormona da hipófise que estimula o funcionamento das células tiroideias) e tanto menor, quanto mais iodo existir no organismo.
Como aumentar a TSH?
Uma das possibilidades, a única disponível até há poucos anos, consiste em suspender a medicação com hormona tiroideia (habitualmente a T4 por 4 a 6 semanas ou a T3 por 2 a 3 semanas).
A falta de hormona tiroideia provoca o aumento da TSH, mas também os sinais e sintomas habituais do hipotiroidismo, que podem ter repercussões mais ou menos importantes, dependendo de doente para doente.
Se o seu médico optar por esta modalidade, pode não lhe dar hormona tiroideia após a cirurgia, contando que fará a terapêutica com iodo radioactivo, 4 a 6 semanas depois.
Outra possibilidade é a utilização de TSH recombinante humana (rhTSH). Até à data está aprovada para os exames de monitorização (doseamento de Tiroglobulina), tratamento ablativo e noutras situações particulares. Apesar de ser produzida em laboratório, a rhTSH é idêntica à TSH natural. Os doentes não têm necessidade de suspender a medicação com hormona tiroideia. Tem muito poucos efeitos secundários: pode haver uma pequena reacção no local da picada e alguns doentes têm náuseas, vómitos, dor de cabeça ou fraqueza após a injecção. O seu médico saberá ponderar a melhor opção para o seu caso.
Como diminuir a quantidade de iodo do organismo?
É essencial evitar a ingestão de iodo nas duas semanas que antecedem o tratamento. Deve evitar a ingestão de sal iodado ou sal marinho e alimentos como:
- Peixe e marisco;
- Produtos com algas;
- Carnes fumadas;
- Frutos secos;
- Frutos ou legumes de conserva;
- Pão;
- Cereais;
- Produtos com soja;
- Qualquer produto com corante E127 como cola, café instantâneo e chá.
Deve ainda evitar medicamentos, vitaminas ou anti-sépticos com cor vermelha, ou tintas para o cabelo que contenham iodo.
É importante lembrar que muitos produtos de contraste usados em radiologia têm grandes quantidades de iodo. Deve avisar o seu médico se tiver algum exame radiológico marcado para o mês anterior.
Cintigrafia pós-terapêutica
É habitual que os doentes façam uma cintigrafia 3 a 7 dias após o tratamento com iodo radioactivo, aproveitando a capacidade da dose elevada para marcar eventuais células tiroideias que ainda possam existir.
Haverá necessidade de outros tratamentos futuros?
Sim, de um mofo geral em duas situações:
- Se após o tratamento inicial houver persistência da doença sensível ao iodo;
- Se durante o seguimento posterior, houver evidência da sua recurrência.
Iodo radioactivo e gravidez
O tratamento com iodo radioactivo ou as cintigrafias de pesquisa de metásteses estão absolutamente contra-indicados na gravidez e aleitamento. Não pode engravidar nos 6 meses que se seguem ao tratamento. Nesta fase deve assegurar uma contracepção eficaz. Consulte o seu médico para programar uma eventual gravidez futura.