
A tiroide pode tirar-lhe o sono?
14 Março, 2025Considerada uma patologia frequente e muitas vezes subdiagnosticada, as disfunções da tiroide apresentaram um aumento significativo durante as últimas décadas. Estima-se que, no mundo, cerca de 200 milhões de pessoas tenham algum problema na tiroide, contabilizando aproximadamente 11% dos europeus com disfunção. Apesar destes valores, o problema maior está na quantidade de doentes não diagnosticados, pelo que estes números podem ser superiores. De acordo com um estudo europeu, determinou-se uma prevalência de hipotiroidismo não diagnosticado de, aproximadamente, 5% em nove países.
Em Portugal, de acordo com os dados do Serviço Nacional de Saúde (SNS), a prevalência de disfunção tiroideia é de 6,2%, correspondendo 3,5% ao hipotiroidismo e 2,7% ao hipertiroidismo. Também no nosso país, existe uma proporção elevada de casos por diagnosticar.
Já a patologia nodular da tiroide é muito frequente na prática clínica, em particular no sexo feminino e no idoso. A prevalência do nódulo detetado por ecografia varia de 20 a 76%, no entanto, o cancro da tiroide ocorre apenas em 5-15% destes nódulos. Em Portugal, o cancro da tiroide tem uma incidência de 22,6/100 000 mulheres e 4,7/100 000 homens, com um aumento significativo desde 1989. Ainda assim, a mortalidade devido a esta patologia reduziu, sendo, por isso, necessário um acompanhamento constante durante vários anos.
O que é a tiroide e quais as patologias?
Aproximadamente do tamanho de uma ameixa, a glândula tiroideia localiza-se na região cervical e produz hormonas. É responsável pelo controlo da taxa metabólica, pelas funções vitais do nosso organismo, como cardíaca, muscular, digestiva e cerebral, apresentando um papel importante na reprodução, no crescimento e desenvolvimento ósseo e na regulação da temperatura corporal.
As doenças da tiroide surgem quando existe uma disfunção na produção das hormonas. O hipertiroidismo e o hipotiroidismo são as mais frequentes, mas existem outras como doença de Graves, doença de Hashimoto, bócio, doença nodular da tiroide e cancro.
Um doente sofre de hipertiroidismo, mais prevalente em mulheres, quando a tiroide produz hormonas em excesso. A principal causa desta patologia é a doença de Graves, isto é, autoimune.
Apesar de estas patologias apenas serem diagnosticadas quando já estão em estadios avançados, existem alguns sintomas que podem ajudar ao diagnóstico precoce. No hipertiroidismo, é natural que o corpo acelere e que cause os seguintes sintomas: aumento do suor e sensação de calor, coração acelerado ou batimento cardíaco irregular, tremores nas mãos, ansiedade, nervosismo e irritabilidade, perda de peso, evacuações frequentes ou diarreia, dificuldade em dormir, perda de cabelo, alterações menstruais, dificuldade para engolir, aumento ou diminuição de energia, dor nos olhos ou inchaço.
Por outro lado, caso produza hormonas insuficientes, pode causar hipotiroidismo — primário, quando a origem do problema é da tiroide, ou central, quando a origem está na hipófise ou no hipotálamo. Também é mais prevalente na mulher e a principal causa é autoimune, ou seja, a doença de Hashimoto.
No hipotiroidismo, os mais comuns são o cansaço, mesmo quando em repouso ou com esforços ligeiros, depressão, sonolência, obstipação, intolerância ao frio, alterações menstruais, aumento do peso, diminuição da tensão arterial e da frequência cardíaca, inchaço dos membros inferiores e enfraquecimento das unhas e do cabelo.
Com os olhos postos no futuro
Com um número elevado de casos por diagnosticar, uma equipa de cientistas identificou 112 genes que podem afetar as hormonas da tiroide e provocar estes distúrbios. Através destes novos dados, é possível identificar potenciais doentes, que tenham um elevado risco de desenvolver estas doenças, bem como as idades mais prováveis de se manifestarem. Este pode ser um próximo passo para prevenir e diagnosticar precocemente, aliando fatores de risco como a idade, o tabagismo e a insuficiência de iodo.
Fontes:
Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo