Semana Internacional da Tiroide 2020 – A mãe e o bebé
As mulheres representam cerca de 83% dos doentes com patologias da tiroide, sendo sobretudo mais frequentes nas mulheres em idade fértil. Acresce ainda que as hormonas tiroideias são essenciais para o normal desenvolvimento e crescimento do bebé durante a gravidez.
Apesar de todos os esforços que têm sido realizados nos últimos anos, com as várias ações de sensibilização sobre estes temas, ainda existem muitas mulheres que desconhecem o papel da tiroide e a sua influência no organismo. Quando não detetadas e tratadas atempadamente, as doenças da tiroide podem ter um impacto muito negativo na saúde materno-fetal.
Desta forma, na semana internacional da tiroide (de 23 a 31 de maio 2020), estamos novamente focados na divulgação e esclarecimento sobre a importância do normal funcionamento da tiroide para a mãe e para o bebé.
A gravidez é um teste de stress à glândula tiroideia.
Ao longo da gestação, a tiroide sofre várias alterações fisiológicas adaptativas, que são reversíveis depois do parto. Neste período, as necessidade de iodo estão aumentadas (mineral fundamental para a síntese de hormonas tiroideias), pelo que a Organização Mundial de saúde e a Direção Geral de Saúde recomendam a suplementação com Iodo a todas as grávidas que não tenham doença da tiroide conhecida.
A deficiência de iodo, que no passado estava associada apenas ao cretinismo e bócio, atualmente sabe-se que é responsável por um largo espectro de doenças, que podem começar na vida intra-uterina e continuar a surgir na infância e vida adulta.
Todas as mulheres em idade fértil com problemas da tiroide têm que ser sempre informadas que, devem sempre avaliar a sua função tiroideia quando ponderam a gravidez, e esta função deverá ser otimizada pelo Endocrinologista que fará as recomendações necessárias a cada caso. Tanto no Hipotiroidismo, como no Hipertiroidismo são necessários ajustes na medicação no decorrer de toda a gravidez.
Nas mulheres, o hipotiroidismo pode ser acompanhado por irregularidades menstruais, como ausência de alguns ciclos ou meses sem menstruação, alterações do fluxo e ciclos sem ovulação. Estas alterações podem causar infertilidade. Se houver uma gravidez e o hipotiroidismo clínico não estiver tratado de forma adequada, existe uma probabilidades acrescida de aborto precoce, parto prematuro, défices cognitivos, macrossomias, entre outras.
Em relação às mulheres sem patologia tiroideia conhecida, a avaliação da função tiroideia a todas as grávidas, ou mesmo em fase de preconceção, é um tema em constante discussão e que não é consensual.
As recomendações atuais indicam um rastreio selecionado em determinadas mulheres que apresentem fatores de risco, nomeadamente: história de disfunção tiroideia ou cirurgia prévia, sintomas de disfunção da tiroide ou bócio, idade superior a 30 anos, doença autoimune da tiroide, diabetes Mellitus tipo 1 ou outras doenças autoimunes, obesidade grave, história de abortos prematuros ou infertilidade, múltiplas gravidezes prévias, história de irradiação da cabeça e do pescoço, história familiar de doença autoimune da tiroide ou de disfunção, tratamentos com determinados medicamentos que podem interferir com a função tiroideia ou residir numa área com carência de iodo.
Portanto, em todas as mulheres que pretendam engravidar ou no início da gravidez, deve ser avaliado o risco de disfunção da tiroide e, em função disso, poderá estar indicada a realização de análises.
No pós parto, as mulheres com patologia tiroideia conhecida, inclusive a tiroidite autoimune com função tiroideia normal, devem fazer uma reavaliação cerca das 5 a 6 semanas do pós-parto. Como o desequilíbrio hormonal é frequente nesta fase, poderá ser necessário um reajuste da medicação.
É importante realçar que, dada a sintomatologia inespecífica, muitas vezes as disfunções da tiroide são erroneamente diagnosticadas como depressões pós-parto.
Embora seja uma raridade, algumas crianças podem nascer sem hormonas tiroideias é o Hipotiroidismo congénito, que pode resultar da ausência de tiroide ou do seu desenvolvimento incompleto, ou mesmo de uma glândula que se desenvolveu, mas com problemas na síntese hormonal. No hipotiroidismo congénito os bebés não têm capacidade para produzir as hormonas necessárias ao seu desenvolvimento e crescimento. No entanto o correto diagnóstico nos primeiros dias de vida, com o teste do pezinho, identifica estas situações e permite o inicio atempado da medicação, possibilitando uma vida perfeitamente normal.
Um artigo da Dra. Inês Sapinho, médica endocrinologista e membro do conselho Consultivo/Científico da ADTI.