Tabaco e tiroide não combinam!
Se fuma, hoje tem uma excelente oportunidade para acabar com esse vício e associar-se às celebrações do Dia Mundial do Não Fumador. Além de estar relacionado com o surgimento de doenças cardiovasculares e pulmonares, sabe-se agora que o fumo do tabaco também pode prejudicar o bom funcionamento da tiroide.
Embora se pense habitualmente nos efeitos do tabaco nos pulmões ou coração, a verdade é que a tiroide também pode ser afetada. Sabe-se, atualmente, que fumar pode agravar os sintomas relacionados com o hipotiroidismo (condição em que a glândula da tiroide não produz hormonas suficientes) e que também pode aumentar o risco de desenvolver distúrbios como a doença de Graves, uma patologia autoimune que se caracteriza pela presença de hipertiroidismo, bócio e protuberância dos olhos.
De facto, o fumo do tabaco é constituído por substâncias nocivas que afetam tanto a função da glândula da tiroide quanto a própria glândula em si. Uma das principais substâncias responsáveis por isso é o cianeto, transformado em tiocianato quando fumado, que interfere na função tiroideia inibindo a absorção de iodo na glândula tiroide e reduzindo a produção das hormonas tiroideias tiroxina (T4) e triiodotironina (T3).
Por outro lado, esse componente inibe diretamente a produção hormonal, interferindo no processo de síntese na glândula tiroideia. Adicionalmente, é também responsável pelo aumento da excreção de iodo dos rins, aumentando por sua vez o risco de inflamação da glândula da tiroide, provocando sintomas como a febre, náuseas e dor de estômago.
Nas pessoas com hipotiroidismo (com níveis baixos de hormonas tiroideias), uma diminuição dos níveis de T3 / T4 pode complicar os sintomas de cansaço, aumento de peso e alterações de humor e, potencialmente, perder muitas das conquistas proporcionadas pelo tratamento.
A inflamação persistente causada pelo tabagismo também pode resultar no aumento da própria glândula, aspeto que é particularmente preocupante para as pessoas com doença de Graves ou de Hashimoto.
Doença de Graves é mais frequente nos fumadores
Está demonstrado que a doença de Graves, uma forma de hipertiroidismo autoimune caracterizada pelo aumento da tiroide (bócio), é duas vezes mais frequente em pessoas que fumam do que em não fumadores. Além disso, nas pessoas que têm a doença, o tabagismo está associado a uma progressão mais rápida da patologia e a uma pior resposta aos tratamentos.
Já a associação entre tabagismo e doença de Hashimoto (distúrbio autoimune relacionado com o hipotireoidismo) não é tão claramente definida. Contudo, pensa-se que o tabaco possa diminuir ainda mais a função da tiroide, enquanto estimula o desenvolvimento de bócio, principalmente nas pessoas com deficiência de iodo. Já em populações com alta ingestão de iodo, o tabagismo aumenta o risco de hipotiroidite de Hashimoto.
Fumar aumenta risco de bócio
Também há evidências de que fumar aumenta o risco de bócio, independentemente do número de cigarros fumados. De acordo com investigações realizadas, esta associação foi observada principalmente em mulheres mais jovens e nos idosos. Além disso, acredita-se que o risco de bócio induzido pelo fumo seja maior em populações com deficiência de iodo. Isso mesmo é observado, por exemplo, em países como as Filipinas, onde o bócio é predominante, a deficiência leve de iodo é endémica e 28% da população fuma.
Os efeitos na visão
Um dos efeitos mais profundos do tabagismo é seu impacto na visão, com especial predominância nas pessoas com oftalmopatia de Graves (doença autoimune que afeta as órbitas oculares, caracterizada por olhos protuberantes).
Estudos concluíram, por exemplo, que os fumadores com doença de Graves eram mais propensos a sofrer uma mais rápida deterioração ocular, incluindo o desenvolvimento de visão dupla, a constrição do movimento ocular e danos irreversíveis ao nervo ótico.
Mais preocupante ainda é o fato de que o tratamento da oftalmopatia de Graves (tradicionalmente com esteroides e radioiodo) ser menos eficaz em fumadores do que em não fumadores.
Fontes: